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20º Passeio do Papai Noel do Bixiga

A tradição segue firme mesmo em tempos de pandemia

Papai Noel do BixigaA 20º edição do Passeio do Papai Noel do Bixiga foi realizada neste sábado, 19 de dezembro. A saída aconteceu por volta das 11h00, em frente à igreja de Nossa Senhora Achiropita, e a chegada foi por volta das 13h30, na Escola de Samba Vai-Vai. Adaptado aos tempos de pandemia, o evento deste ano foi mais discreto para evitar aglomerações e, além dos presentes para as crianças, também distribuiu em torno de 4 mil máscaras de proteção para as famílias, além de praticar a higienização das mãos durante o percurso.

O tradicional Passeio do Papai Noel do Bixiga é realizado pela Associação Amigos do Bixiga, uma organização sem fins lucrativos composta por pessoas que fazem o Bixiga acontecer. A verba para a compra dos brinquedos vem da doação de moradores e pequenos comerciantes. O presidente é Carlos Alberto Telles, conhecido por todos como Carlão, e tem como presidente de honra o querido Tinin, da velha guarda das tradições do Bixiga.

“Pensamos muito se deveríamos fazer o Passeio deste ano por causa da pandemia. Conversamos com diversas pessoas, recebemos apoio e decidimos fazer porque sabemos que a sacolinhas de brinquedos que distribuímos todos os anos, para muitas crianças, é o único presente de Natal que recebem”, disse Carlão.

Conheça a História desta tradição.

Papai Noel do Bixiga

O Passeio foi criado em 1991 numa reunião de amigos e até hoje é um dos maiores eventos de Natal do Bixiga. Mais de 15 mil sacolas de presentes chegaram a ser entregues em uma única edição e as pessoas lotavam as ruas da Bela Vista para aguardar a chegada do Papai Noel.

“A gente sempre se reunia às sextas-feiras num bar para tomar uma cerveja. Um dia decidimos que podíamos fazer algo para alegrar o Natal das crianças do bairro”, disse Waldir dos Santos Guerra, criador do Passeio Papai Noel, em entrevista ao Diário Popular no dia 24 de dezembro de 1994. “Peguei meu jipe, coloquei um Papai Noel em cima e saí distribuindo balas pelas ruas. É uma alegria muito grande ver a felicidade que proporcionamos com tão pouco.”

Waldir Guerra foi o idealizador do passeio e teve a ajuda de muitos amigos para transformar o sonho de alegrar o Natal do Bixiga em realidade. Quando viram a boa vontade da turma e a seriedade deste trabalho, aos poucos os comerciantes foram ajudando e multiplicando as bolas e os doces para atender cada vez mais crianças. Como resultado, no começo dos anos 2000, carretas e mais carretas saíam às ruas lotadas de presentes que eram entregues pelo Papai Noel e seus ajudantes nas ruas do bairro.

Papai Noel do Bixiga é negro

Papai Noel do Bixiga

Um dos maiores parceiros de Waldir na realização deste evento tradicional do bairro sempre foi o senhor José Telles, eternizado como o grande Papai Noel do passeio e também o presidente da associação organizadora. Seu José, como era conhecido por todos, foi escolhido por sua simpatia, grande coração e jeito com as crianças, mas também veio para revolucionar e nos fazer pensar diferente, pois ele era negro, e ter um Papai Noel negro respeitava a própria história do Bixiga. Afinal, antes mesmo da chegada dos italianos, os negros já habitavam essas terras.

Um tradição interrompida

No ano de 2006, o Passeio do Papai Noel nas ruas da Bela Vista não foi realizado. Seu José Telles apresentava sérios problemas de saúde e não conseguiu organizar o evento. Ele veio a falecer anos depois e essa alegre tradição do Bixiga teve que ser interrompida.

O Papai Noel retorna

Os filhos de Seu José sempre tiveram o sonho de voltar a realizar o passeio, mas não seria uma tarefa fácil, pois para isso seria necessário arrecadar dinheiro, buscar apoiadores, doações, voluntários para a montagem das sacolinhas e organizar o grande dia. Foi aí que eles se uniram à uma nova geração de moradores do Bixiga, colocaram tudo o que precisavam no papel, montaram uma nova associação e decidiram recomeçar. E no dia 17 de dezembro de 2016 o Papai Noel voltava a entregar presentes pelas ruas do Bixiga, com Marco Paulo Telles, filho do Seu José, na figura do “bom velhinho” negro, seguindo as tradições e respeitando a história.