Lavagem da Escadaria do Bixiga e da Rua 13 de Maio é realizada pelo grupo Ilú Obá de Min no dia da Abolição
Na sexta-feira, dia 13 de Maio, o grupo Ilú Obá de Min realizou a lavagem da Escadaria do Bixiga e da Rua 13 de Maio, em um tradicional ato simbólico de protesto desta data, que consideram como a falsa Abolição da Escravatura. A lavagem fez parte do evento 13 na Treze, que contou também com a bateria mirim e baianas da escola de samba Vai-Vai e apresentação do Grupo Madeira de Lei.
O bloco afro Ilú Obá de Min iniciou seu ritual com um discurso sobre a situação do negro no Brasil, último país a abolir a escravidão na América, e também fez severas críticas ao novo governo de Michel Temer, que assumiu a Presidência da República como interino na mesma semana. Eles também reivindicaram a volta dos ministérios da Cultura, das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.
Após o discurso, as mulheres do Ilú dançaram, encantaram e espalharam água de cheiro pela Escadaria e por toda a Rua 13 de Maio, a mais emblemática do Bixiga. Acompanhadas por ritmistas e seus tambores, o grupo passou por cantinas e pela igreja de Nossa Senhora Achiropita, representando bem as características afro-italianas no bairro.
O Bixiga é conhecido por sua colonização italiana, mas antes que os imigrantes da península chegassem, o povo negro já habitava essas terras. Eles fugiam dos leilões de escravos, que eram constantes no Vale do Anhangabaú, e chegavam aqui pelo rio Saracura, localizado na região da Avenida 9 de Julho, que hoje está canalizado. Quilombos urbanos foram se formando nas margens desse rio. Após a abolição da escravatura, muitos negros não tinham para onde ir e vieram recomeçar suas vidas no Bixiga. A escola de samba Vai-Vai representa o grande emblema dessas origens.
O Ilu Obá de Min, nome que em Yorubá significa “mãos femininas que tocam tambor para Xangô”, é hoje um centro de referência da cultura negra na cidade de São Paulo. Formada basicamente por mulheres (homens participam de poucas atividades), a associação multiétnica trabalha o empoderamento feminino e as questões raciais.
Nádia Garcia – da redação.