O Drama do Lixo no Bixiga: Falta Gentileza Urbana em SP
Bixiga sofre cada vez mais com impactos do descarte irregular e do lixo
São Paulo está prestes a completar 467 anos, e o Bixiga, um dos bairros mais tradicionais da cidade, sofre com o descarte irregular de resíduos e lixo espalhado pelas ruas. Todo ano o Portal do Bixiga realiza enquetes com seus seguidores e o lixo é sempre apontado como o principal problema da Bela Vista. O drama do lixo no Bixiga afeta Cultura, gastronomia, turismo, arquitetura, empregos, nossos rios (Saracura, Bixiga e Itororó), que sofrem com os impactos desta violação ao meio ambiente que provoca enchentes, aumenta a poluição e ameaça a saúde de todos.
Diário de uma esquina
No dia 18 de dezembro o Portal do Bixiga fez uma postagem com o tema ‘Diário de Uma Esquina’, onde foi feito o acompanhamento por 4 dias da esquina das ruas Doutor Luis Barreto e São Vicente. O local estava com grande acúmulo de lixo, como sofá, entulho, fios, sacos de lixo rasgados e até um vaso sanitário. Foi aberto um chamado no SP156, Portal de Atendimento da Prefeitura, e em menos de 24 horas o local ficou completamente limpo. No dia seguinte já encontramos gavetas jogadas no mesmo local e no 4º dia de monitoramento a esquina já tinha móveis, colchões, entulhos e sacos de lixo rasgados.
De acordo com as respostas dos usuários, fizemos um giro pelas ruas do bairro e encontramos:
– Pontos viciados de descarte de lixo;
– Lixo colocado fora do horário;
– Lixo jogado no chão das ruas;
– Bitucas de cigarro jogadas no chão;
– Árvores usadas como lixeiras;
– Sacos de lixo mal embalados e rasgados;
– Descarte irregular de entulho de obra;
– Descarte irregular de móveis;
– Valetas e bocas de lobo sujas.
Rua Treze de Maio
Uma das mais emblemáticas ruas do Bixiga e da cidade, onde temos a Paróquia de Nossa Senhora Achiropita, cantinas, famosas casas de rock, Samba da Treze, Escadaria do Bixiga, Praça Dom Orione, Feira de Antiguidades, Escadaria do Jazz e tantos outros festejos e eventos, é também uma das ruas que mais sofre com o descarte irregular de lixo.
Já no começo da via, na histórica esquina com a Rua Santo Antônio, temos o belo casarão sede do Teatro do Incêndio e um ponto viciado de descarte irregular praticamente na porta do local. Marcelo Marcus Fonseca, diretor do Teatro, diz que tenta há 2 anos resolver o problema. Já conversou com representantes da subprefeitura, tentou algumas ações, mas até o momento nenhuma mudança aconteceu. Ele diz que quem descarta lixo e grandes objetos ali são moradores, já habituados a descartar resíduos naquela esquina, e também pessoas de outros lugares. “Outro dia eu estava na esquina e vieram descendo dois rapazes com uniforme de quem faz eventos carregando 4 sacos enormes e deixaram ali. Vinham lá da Rua Rui Barbosa, de uma festa em um espaço. Eu falei para tirar. Disse que deixassem o lixo na porta do local do evento. Eles me disseram que a dona do espaço disse que era ali o lugar de descartar o lixo de sua festa”, explicou.
Ainda na Rua Treze de Maio, altura do nº 189, temos um dos pontos com maior acúmulo de lixo encontrados no bairro. No dia 15 de outubro de 2020, Dia do Consumo Consciente, a ambientalista Paula fez um vídeo relatando a problemática do local. No dia 16 a prefeitura fez uma revitalização no local, mas dias depois o grande acúmulo de lixo voltou. As pessoas pararam de colocar os resíduos no muro, mas estão colocando na árvore em frente, ato que ainda prejudica a saúde da mesma.
O descarte de grandes volumes de lixo nas ruas é proibido, é considerado crime ambiental passível de multa em mais de R$16 mil, de acordo com a Lei de Limpeza Urbana nº 13.478/02. Em nosso site temos diversas informações de como cada cidadão deve cuidar dos seus resíduos. É possível consultar o horário da coleta domiciliar, da coleta de recicláveis, endereço do Ecoponto, telefone do Cata Bagulho, bem como instruções para se abrir chamados na prefeitura, onde entregar óleo de cozinha, lacres, plásticos e muito mais.
A esquina da Rua Treze de Maio com a Rua São Vicente também é um ponto viciado de descarte de resíduos. Além de ser o quarteirão da Paróquia de Nossa Senhora Achiropita, esse grande acúmulo de lixo fica em frente a um consultório médico odontológico. A Dra. Pollyana Prado nos contou que os moradores do entorno atravessam a rua para jogar o lixo na porta do consultório. Nos finais de semana, quando acontecem baladas, há também um grande acúmulo de garrafas. “Isso atrapalha muito porque no consultório temos que ter tudo limpo. Quando chove entra água na recepção porque os bueiros estão sempre entupidos. Tem dia que tem tanto lixo que a gente não consegue nem abrir a janela por causa do cheiro e as pessoas não conseguem nem passar pela rua”.
O quarteirão dos restaurantes também não escapa. Na altura do nº 700 é comum encontrarmos grandes volumes de lixo, móveis e entulho. Há também estabelecimentos que deixam o lixo na rua, não fazem a separação dos resíduos recicláveis e catadores muitas vezes rasgam os sacos em busca de latinhas e outros materiais que possam ser vendidos. A Praça Dom Orione, um dos cartões postais do bairro, também sobre lixo colocado fora do horário e sacos rasgados. A praça tem mais de 15 lixeiras no seu entorno, mas é comum encontrar latas, garrafas, restos de comida e muitas bitucas de cigarro na grama e na parte asfaltada.
Lixo na proximidade de escolas e estabelecimentos de saúde
Próximo ao hospital Pérola Byington, na Rua Conde de São Joaquim, encontramos lixo espalhado, restos de móveis, entulho, restos de comida. A região das ruas Conde e Condessa é conhecida por ser foco de escorpiões e uma das principais medidas de combate é manter a limpeza e descartar corretamente os resíduos. Na Rua Humaitá temos a EMEI Angelo Martino (educação infantil), o Posto de Saúde (UBS Humaitá) e também a EMEF Celso Leite Ribeiro Filho, todas no mesmo quarteirão, local que também concentra descarte irregular de lixo. Na Rua São Domingos, grandes quantidades de entulho e restos de móveis também são descartados nas proximidades da escola Maria Augusta Saraiva e da CEI São Domingos. E na rua da UBS Nossa Senhora do Brasil, Rua Almirante Marquês de Leão, também temos ponto viciado de descarte irregular.
Bueiros entupidos, lixo mal embalado e curiosidades
Durante o dia não é difícil encontrar sacos de lixo mal embalados, resíduos espalhados e bueiros entupidos. Mas um bueiro na Rua Manoel Dutra conseguiu surpreender, dentro dele encontramos um pneu, madeiras, garrafas, copos, pedras, bitucas de cigarro e outros.
Descarte de entulho
As ruas Professor Laerte Ramos de Carvalho e Jaceguai, vias que margeiam o Viaduto Júlio de Mesquita Filho, sofrem com grandes volumes de descarte de entulho. A agente de saúde Andrea Leal mora na esquina de um desses pontos. “A prefeitura vem, limpa e na noite seguinte já tem todo o lixo de novo, porque o descarte é feito de madrugada. Eu já vi carros descarregando o entulho para não pagar uma caçamba. Eu sempre tento conscientizar, mas algumas pessoas dizem que o Ecoponto é longe, outras dizem que o que precisam descartar é muito pesado e elas não tem carro e acabam descartando na porta de casa ou dão um dinheiro para alguém que vai descartar em qualquer lugar”, diz Andreia.
O descarte irregular está por todo o bairro
Atendendo ao pedido da seguidora Fernanda Fernandes, subimos a Rua Jandaia e encontramos muito lixo espalhado e descarte irregular. Nas ruas Cardeal Leme, Carrão, Ramalho, Ramalho x Santo Antônio, Bororós, Luis Porrio, Maestro Cardim, Major Diogo, Manoel Dutra, Pedroso também encontramos uma situação de grande descaso com o meio ambiente e com nosso bairro.
Será que estamos pouco nos lixando?
Em 2019 tivemos a atuação do projeto Bixiga Sustentável, uma iniciativa de 4 moradores que resultou em diversas ações de sustentabilidade no bairro ao longo do ano que contou com mais de 100 voluntários e mais de 15 entidades apoiadoras, entre elas o Portal do Bixiga. Foram realizadas ações como ‘Bixiga Folia Limpa’ no Carnaval, ‘Lacra Bixiga’ para arrecadação de lacres de latinhas, 2 grandes ações de rua com foco nas 30 ruas alvo do projeto, diversas palestras de conscientização em escolas e igrejas, vistoria nas ruas com a equipe de Vigilância Ambiental, reuniões com a comunidade e muito mais. O projeto foi criado para plantar a semente da sustentabilidade em 2019 e para que a comunidade se apropriasse e continuasse com os trabalhos em 2020, mas as ações foram suspensas por causa da pandemia. Conheça mais desse projeto nas redes sociais @bixigasustentavel ou pelo www.portaldobixiga.com.br/bixigats.
“A gente trabalhou muito neste projeto e conseguimos fazer um barulhão. Como numa bateria, pega um tamborim, um reco-reco, um surdo, um chocalho e, quando junta tudo, produz um som maravilhoso. E foi o que a gente conseguiu, fazer barulho pelas ruas do bairro e encontrar várias pessoas com o mesmo foco e objetivo, que entendem que resíduo não é lixo, dá para reutilizar e transformar. Muitos começaram a perguntar onde entregar os resíduos recicláveis ou entregar lacres. Devagar se vai ao longe. O importante é não parar e cada pessoa deve se comprometer a continuar praticando e falando para o próximo sobre a importância da sustentabilidade”, diz Paula Lima, coordenadora ambiental do projeto Bixiga Sustentável.
A agente de saúde Andrea nos contou que há um trabalho de educação ambiental constante sendo feito no bairro. Em algumas visitas às famílias, os agentes de saúde são acompanhados por agentes de proteção ambiental do PAVS, Programa Ambientes Verdes e Saudáveis. “Nessas ações eles levam folhetos, viram os vasos, explicam tudo o que pode juntar água, atrair roedores. E falam dos problemas, como o lixo, porque se não cuidar do meio ambiente isso afeta diretamente na saúde das pessoas”, diz Andreia. Ela também disse que o resultado é demorado, mas que perceberam melhora pela diminuição dos focos de dengue na região.
Andreia conta que o PAVS está em busca de aplicar na comunidade o conceito de que a sustentabilidade pode gerar até lucro. Os agentes dão aulas de artesanato usando materiais reciclados e ensinam a produzir peças que podem ser vendidas, gerando renda para famílias. “Nós também fazemos reuniões com os catadores, mas paramos por causa da pandemia’, diz Andrea.
Possíveis soluções
Conscientização e fiscalização, dizem os seguidores. Muitos falam da importância da educação ambiental nas escolas, trabalho mais efetivo de conscientização de pensões, condomínios e comércio e banners nos pontos viciados com endereço do Ecoponto. Também disseram que é preciso instalar câmeras e multar quem faz o descarte irregular. Outro ponto importante levantado foi sobre os imóveis fechados ou abandonados há muito tempo, que muitas vezes se tornam pontos viciados de descarte irregular, como o antigo Teatro Zaccaro. “Poderiam fazer alguma coisa positiva neste teatro”, diz o seguidor Luiz Guizzetti.
Marcelo Marcus, do Teatro do Incêndio, diz que várias ações são necessárias para resolver o problema. “Arrumar calçadas, bater de porta em porta, conversar com o comércio local, ter uma coleta mais eficiente. Da nossa parte pretendemos criar formas de convivência na rua. Vamos refazer toda a pintura da parede do espaço e já colocamos iluminação. Mas o poder público precisa agir firmemente. Uma boa ideia seria um grande jardim. Hoje o lixo ocupa até a faixa de pedestres” diz Marcelo.
A agente de saúde Andreia diz que é preciso conscientizar as pessoas que o descarte irregular é um crime ambiental. “Mas a informação não é tão clara. Tem o Cata Bagulho, mas tem que olhar no site e muitas pessoas nem internet tem. Deveriam passar com mais frequência e deixar avisado nas casas, prédios, empresas e locais públicos. Precisava ter mais locais para entrega de material reciclável. É preciso melhorar a informação e oferecer mais recursos, diz ela.
Vamos trabalhar juntos!
“O poder da mudança está em nossas mãos, na nossa transformação”, diz a bióloga e ambientalista Patricia Nikitin, que também é moradora do bairro e atua em diversas ações de sustentabilidade.
Você pode colaborar por um Bixiga mais sustentável de diversas formas como:
– Coloque o lixo na rua no horário mais próximo possível da coleta;
– Separe os resíduos que podem ser reciclados;
– Deixe as latinhas num saco separado dos demais resíduos;
– Verifique o dia que o caminhão de Coleta de Recicláveis passa na sua rua ou entregue seus resíduos a um catador;
– Jamais coloque lixo nas árvores;
– Não jogue lixo em pontos viciados de descarte irregular, é crime ambiental;
– Utilize o Cata Bagulho para descarte de móveis velhos, eletrodomésticos quebrados, pedaços de madeira e metal;
– O Ecoponto também pode ser usado para descarte de móveis e resíduos recicláveis;
– Se contratar um carreto, peça provas de que seu material foi descartado em local adequado;
– Incentive seu condomínio a fazer separação de resíduos recicláveis;
– Separe o óleo de cozinha usado, não jogue em ralos;
– Baterias e pilhas são altamente tóxicos e precisam ser descartados em local apropriado;
– Recicle, reutilize, reduza, repense e recuse;
– Faça denúncias e reclamações sobre Limpeza Urbana no SP156.
Para saber em qual horário o caminhão de coleta passa na sua rua, onde entregar resíduos recicláveis, como abrir chamado na Prefeitura, qual endereço do Ecoponto e outras informações, acesse nosso site.
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