Manifestação no Bixiga pede o fim da violência contra a mulher
Convocado pelas redes sociais, ato foi de apoio à Vera Lucia, moradora do bairro
Moradores e representantes de entidades do bairro realizaram neste último domingo, 20, um ato de protesto contra Paulo Leite, ator e proprietário do Restaurante Amazônia. A manifestação foi organizada através das redes sociais e aconteceu em frente ao restaurante Amazônia, localizado na Rua Rui Barbosa, 206. Paulo é acusado de agressão à moradora do Bixiga Vera Lucia da Silva, 68 anos, membro do Núcleo de Convivência de Idosos da Achiropita, sua filha Denise, 45 anos, e sua neta Letícia, de 19 anos, na tarde do dia 07 de setembro. O empresário já teria agredido também, aqui no bairro, o senhor Bruno, da Cafeteria Sabelucha, e Marcela Volpato, do Restaurante Itália Mia. A ex-mulher de Paulo, Dulcinéia Fernandes, também lhe acusa de 5 agressões.
A agressão contra Vera, muito conhecida no bairro por sua simpatia, foi pauta das principais articulações comunitárias do Bixiga. A Rede Social Bela Vista, grupo composto por diversas entidades, cujo objetivo é promover o desenvolvimento sustentável da região, publicou uma Nota de Repúdio a Atos de Violência Contra a Mulher e Pessoa Idosa no dia 16 de setembro. Diversas outras páginas, como Escadaria do Jazz, Bloco do Fuá e Ramaloucos, também fizeram postagens pedindo por “Justiça Para Dona Vera” e fim da impudidade.
A manifestação foi organizada através das redes sociais. Participaram do ato familiares de Vera Lucia, moradores e representantes da Vai-Vai, Casa Mestre Ananias, Bixiga Sem Medo, Bloco do Fuá, Ramaloucos Futebol Clube, Negros do Bixiga, Escadaria do Jazz, Confederação das Mulheres do Brasil, entre outros. Marco Ribeiro, do Bloco do Fuá, iniciou as falas. “Nós aqui da comunidade do Bixiga estamos aqui reunidos porque há duas semanas houve uma agressão a 3 mulheres neste local” disse ele.
Entenda o caso
A discussão entre Paulo Leite e Vera Lucia começou dentro de um supermercado localizado na Rua Rui Barbosa, ao lado do Restaurante Amazônia, na tarde do dia 7 de setembro. Vera estava na fila quando Paulo teria passado na frente de todos e se dirigido ao caixa. Logo após, ela teria reclamado com uma pessoa ao lado e dito que não seria certo ele ter furado fila. Paulo ouviu as palavras de Vera e dessa forma, do lado de fora do mercado se iniciou uma grande discussão com diversas ofensas pessoais e gritos. Neste momento ela foi até sua casa chamar a polícia e relatou o ocorrido para a filha e a neta. As 3 voltaram até a frente do restaurante.
Sua filha, Denise, então lhe pergunta “por que o senhor ofendeu a minha mãe”? E a partir deste momento novas discussões começaram, até que as agressões teriam se iniciado. Paulo é acusado de ter dado socos na cabeça de Vera, sendo que um deles a derrubou no chão. Sua filha e a neta foram lhe defender e também teriam recebido diversos socos. “Como ele é alto, os socos dele só pegavam na cabeça”, diz a filha de Vera, Denise. Segundo relato das vítimas, ele também disparou diversos chutes, o que impedia a aproximação.
Vera, Denise e Letícia fizeram boletim de ocorrência e também realizaram exame de corpo de delito. Devido à queda, provocada por um dos socos disparados por Paulo, a idosa sentia fortes dores e precisou de atendimento médico. Foi constatada uma luxação e ela foi medicada. A neta de Vera, Letícia, de 19 anos, está traumatizada, não dorme mais à noite e está tendo crises diárias de pânico.
O outro lado
Procurado por nossa redação, Paulo Leite disse que está com 71 anos e que desde que completou 60 anos se utiliza da lei 11.765 do Estatuto do Idoso, que lhe dá o direito de ter atendimento prioritário em filas. Ele disse que após pegar o que precisava no mercado se dirigiu à primeira pessoa da fila e falou “Com licença, sou prioridade”. Quando estava pagando, escutou que ele havia furado fila, ao que respondeu “não furei fila nenhuma, é um direito meu de idoso”.
Do lado de fora do mercado, Paulo disse que uma nova discussão com Vera Lucia começou. Ela saiu, mas retornou com outras duas mulheres e elas teriam começarado a “urrar” em cima dele. Ele afirma que foi agredido primeiro. “Eram 6 braços me batendo e, logicamente, eu me defendi”, diz Paulo.
Paulo também teria agredido Segismundo Bruno, de 73 anos, dono da Cafeteria Sabelucha, em julho de 2018. Após discussão por divergências políticas, Paulo deu empurrões e chutes que derrubaram Bruno no chão. “Depois desse episódio a gente ficou amigo depois, o Bruno é um amor de pessoa”, afirma.
Marcela Volpato, da Casa Volpato, acusa Paulo Leite de agressões físicas e verbais que teriam acontecido em uma agência bancária também localizada na Rua Rui Barbosa, novamente por causa de lugar na fila. Ele afirma que cometeu uma “verborragia” contra Marcela e se retrata disso. “Eu não tenho homofobia, aqui eu tenho gay tenho lésbica, são os meu melhores funcionários”, diz ele.
Dulcineia Fernandes foi casada com Paulo Leite durante 6 anos. Ela teria sofrido 2 agressões durante o casamento e mais 3 agressões após a separação. Ela registrou o primeiro boletim de ocorrência contra Paulo em 2010, após sofrer agressão que resultou em lesão grave no joelho esquerdo, conforme constatado por laudo de perícia. Paulo afirma que numa briga ele perdeu a cabeça. “Puxei-a pelos cabelos, ela me chutou, eu chutei a bunda dela. Foi o suficiente para ela ir para os programas de televisão”. Ele também se queixa de grampo de celular, perda de trabalhos e perseguição por parte de Dulcineia e diz que ela o chantageou com falsas operações no joelho. “O inferno não conhece fúria maior do que de uma mulher abandonada”, diz ele, citando Shakespeare.
“Eu sou perseguido por essas pessoas. E uma franjazinha do Bixiga que se incomoda comigo”, finaliza Paulo Leite.
Durante a manifestação deste domingo, diversos representantes do bairro fizeram falas de repúdio ao ocorrido com Vera Lucia da Silva e demais agressões envolvendo o nome de Paulo Leite.
“Fica nosso repúdio, em nome dos capoeiras, em nome de quem é do samba e de quem é da cultura”
Rodrigo Minhoca da Casa Mestre Ananias.
“Nós somos uma comunidade. Qualquer violência que venha pela frente nós estaremos juntas e juntos para que a violência contra qualquer pessoa acabe. O Bixiga está aqui para ser feliz, para ter samba, para ter almoços confraternais e não para ter uma pessoa com total falta de respeito.”
Rosemeire Almeida, do Bloco do Fuá.
“O Bixiga é um lugar de pessoas que honram e prezam pela cultura, pela educação, pelo esporte, pelo lazer. E aqui tem pessoas de bem. O povo do Bixiga é unido.”
Luis Paulo Kbraw, do Ramaloucos FC.
“Essa fachada é de um restaurante chamado Amazônia, floresta que representa a vida, a fauna, a natureza. Esse restaurante, através do seu dono, não merece ter esse nome”
Wellinton, Negros do Bixiga.
“Vamos falar para todo o povo da Bela Vista. Aqui neste restaurante, o dono, que se diz ator e diretor de teatro, é um cara covarde que bate em mulher”
Adriano, Diogo do Jornalistas Livres.
“Não aceitamos esse tipo de agressão. Tenha a nossa solidariedade, Dona Vera”
Eliane, da Confederação de Mulheres do Brasil.