Rua Treze de Maio – a emblemática rua do bairro afro-italiano
A rua que conta um pouco da história da população negra no Bixiga
Neste 13 de Maio de 2020 não poderemos ir para as ruas para escrever mais um capítulo da nossa história, pois estamos em isolamento social. O Portal do Bixiga, então, traz para você um pouco de uma das ruas mais emblemáticas da Bela Vista: a Treze de Maio. A rua, que até 1916 chamava-se Celeste, foi renomeada em 1916 como referência ao dia em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil. O Bixiga, muito conhecido por sua colonização italiana, é antes um território negro.
A data em que se comemora o aniversário do Bixiga é 1º de outubro de 1878, data em que D. Pedro II veio até essas terras e colocou a pedra fundamental para a construção de um hospital da Santa Casa, que acabou não sendo construído. Porém, após este evento, as terras da então Chácara do Bixiga começaram a ser loteadas, ruas foram construídas e a região foi se urbanizando. Muito antes desta data de 1878, registros históricos já apontavam a presença de negros nas terras do Bixiga. A existência de um quilombo nas margens do Rio Saracura era conhecida até pelas autoridades da cidade. “Em 1831 foi feito um documento com a tentativa de fechar o acesso do Anhangabaú ao Bexiga”, relata Célia Lucena em seu livro ‘Bairro do Bexiga, A Sobrevivência Cultural’. Os negros que fugiam dos leilões de escravos que aconteciam na região do Largo do Piques e Vale do Anhangabaú chegavam ao Bixiga através do Rio Saracura.
Os negros concentravam-se na região conhecida por quadrilátero do Saracura, formada pelas ruas Rocha, Almirante Marquês de Leão, Una e Nove de Julho. Eles comemoravam o dia da Lei Áurea numa capela existente no Largo São Manuel, bem no encontro das ruas Una e Rocha. A capela foi demolida no começo do século XX. As comemorações desta data passaram a acontecer na então Rua Celeste, que em 1916 teve a nova denominação oficializada por meio do ato nº 972 e passou a se chamar Rua Treze de Maio.
A Escola de Samba Vai-Vai, maior campeã do Carnaval de São Paulo, é um dos maiores símbolos da herança negra no bairro e na cidade. O Vai-Vai certamente é uma das maiores paixões do Bixiga e une todas as raças em território alvi-negro. Em 2019 a escola foi rebaixada ao grupo de acesso e um grupo de intelectuais negros lançou um manifesto de apoio devido à sua importância para a comunidade negra, o manifesto foi batizado de “Onde o Vai-Vai estiver, nós estaremos”. Este ano a agremiação foi a grande campeã do grupo de acesso e, antes que as comemorações começassem, os sambistas subiram até a Rua Treze de Maio para agradecer à Nossa Senhora Achiropita o título conquistado.
E foi também na Rua Treze de Maio, na paróquia da padroeira do Bixiga, Nossa Senhora Achiropita, que surgiu a Pastoral Afro em 1988, ano de comemoração dos 100 anos da Abolição da Escravatura. Antônio Aparecido da Silva, conhecido por todos como Padre Toninho, o primeiro pároco negro da igreja, deu início aos trabalhos da Pastoral cujo lema é: Fé, Resistência e Identidade Negra. Entre outras atividades desta pastoral, destaca-se as missas afro em homenagem à São Benedito e à Mãe Negra.
O Bixiga vem a cada dia reescrevendo sua história e ressaltando a importância do negro na construção de nossa cultura. O projeto Negros do Bixiga tem como objetivo resgatar a história dos negros e falar sobre personagens que transformaram esse bairro, desde o Quilombo do Saracura até os dias de hoje. O coletivo Ilú Obá De Min realiza todos os anos, no dia 13 de maio, a lavagem da Escadaria do Bixiga como forma de protesto ao que consideram como falsa abolição da escravatura. Este ano, devido à pandemia de COVID-19, o protesto será realizado através de uma live que acontecerá às 19h00 no Instagram @iluoba.
Rua Treze de Maio – O Coração do Bixiga
A Treze de Maio é a rua que representa toda a pluralidade existente no bairro mais tradicional da cidade. Estamos vivendo uma pandemia mundial e o Bixiga, pela primeira vez em sua história, está com seus eventos suspensos. Mas ao fazer um giro virtual pela rua, podemos descobrir o que é que tem no B do Bixiga.
– Teatro do Incêndio: Já no começo da rua, esquina com a Santo Antônio, somos recebidos pela fachada maravilhosa do Teatro do Incêndio, que representa toda a história do bairro com a arte e com a cultura.
– Casas de Rock: Na sequência, as famosas casas Café Piu-Piu, The Wall e Alkatraz mostram que a história do rock passa por aqui. O Bixiga foi palco de uma das cenas de rock mais importantes da cidade nos anos 70 e 80.
– Maria José: A EEPSG Maria José foi a primeira escola do Bixiga. A escola foi uma doação de Fernando de Albuquerque para a comunidade e leva o nome de sua mãe, que também nomeia uma rua do bairro.
– Achiropita: Ela é a padroeira do Bixiga. A paróquia possui diversas obras sociais com assistência a crianças, idosos, moradores em situação de rua, realiza eventos temáticos durante todo o ano e realiza a maior festa italiana da cidade.
– Samba da Treze: Toda sexta-feira é dia de Samba da Treze. O grupo Madeira de Lei, fundado em 1974, leva seu samba para a rua em uma roda que já é das mais conhecidas da cidade. O repertório conta com clássicos de Adoniran Barbosa, Cartola, Alcione, Jorge Aragão, Fundo de Quintal e muito mais.
– Cantinas: As mais tradicionais cantinas italianas da cidade estão na Rua Treze de Maio. É lá que também está o Centro de Memória do Bixiga, que conta um pouco mais da história da região e é de propriedade de Walter Taverna, um dos maiores personagens de nosso bairro.
– Escadaria do Bixiga: A Escadaria do Bixiga liga as ruas Treze de Maio e Ingleses e é um dos cartões postais do bairro. Além disso, é palco de eventos culturais como o Escadaria do Jazz.
– Praça Dom Orione: A Praça Dom Orione é uma das mais queridas do Bixiga. Ali também acontecem diversos eventos, como a Feira de Antiguidades aos domingos. No Carnaval funciona como concentração de diversos blocos e nos seus arredores encontramos diversos bares, casas noturnas e lojas de antiguidades.
Este talvez seja o dia 13 de maio mais diferente de toda a nossa história. A nossa memória se faz viva nas ruas, mas precisamos ficar em casa. O Portal do Bixiga, então, leva as ruas do nosso bairro e a história até você.
Muita saudade, morava na Almirante Marques Leão. Meu pai tinha uma venda, fui criada no meio do Vai Vai, naquela época Cordão carnavalesco, lembro da Iracema.
É verdade, grandes momentos.
Parabéns para nosso querido Bixiga.De tantas histórias legais.
Fecharam alguns bares ali, uma pena. Após esse período espero que a região continue preparando ♡
Belíssima matéria. Vivi mais de dez anos neste bairro. Foi uma escola de vida, se história e de saber popular. Cada canto uma história. Poderia ficar horas falando.