Um trabalho realizado em nossa comunidade que você precisa conhecer
O Bixiga é definitivamente um território mágico. Quem passar aos domingos a tarde pela Rua Major Diogo vai se contagiar com o som de uma bateria vindo do baixio do Viaduto Julio de Mesquita Filho. Bem ali, na cicatriz do Bixiga, existe um projeto social e cultural chamado Bateria 013.
A Bateria 013 é uma ONG que ensina todos os instrumentos que compõem uma bateria de escola de samba a quem quiser aprender. Formada por um grupo de ritmistas do Bixiga, a ideia é criar um elo cultural com a comunidade. O nome, 013, é uma alusão aos três primeiros números do CEP das ruas do bairro.
Tudo começou quando Robinho chamou amigos para tocar. Eles não tinham um local para a prática e começaram a ensaiar na rua, debaixo do Sol. Mas espaços públicos se transformam e, depois que a prefeitura retirou os moradores do baixio do viaduto, eles se transferiram para o local. O grupo começou a atrair olhares, muitas pessoas começaram a aparecer, pedir para aprender e assim a Bateria 013 se transformou numa escola, sendo que hoje já é registrada como uma ONG.
Bateria 013 é mais que uma escola de bateria. Junto com outros grupos que ocupam o viaduto, eles pretendem fazer desse espaço público um polo cultural e esportivo no Bixiga. A ideia é levar cultura ao bairro através da música, do esporte, dança, teatro e outras atividades.
Apesar da Bela Vista ser o bairro com a maior densidade populacional da capital, é também o distrito com uma das menores áreas verdes e extremamente carente de atividades para crianças e jovens. Com isso os menores ficam nas ruas, crescem na ociosidade e se tornam alvos fáceis para o caminho das drogas e da criminalidade.
E o projeto está se tornando transformador. Como muitas crianças foram aparecendo na escola, os coordenadores viram uma oportunidade de se conectar e mudar uma realidade do bairro. Além de ensinar a tocar os instrumentos, eles também acompanham a vida desses pequenos através dos boletins escolares e até mesmo da vida pessoal das famílias.
Para continuar participando das aulas é preciso mostrar o boletim escolar de tempos em tempos. Quem estiver com nota baixa recebe uma advertência verbal, que na verdade se trata de uma conversa e acompanhamento. Se as notas não melhorarem, o aluno pode ser afastado das aulas de bateria até melhorar na escola. Mas a ajuda de voluntários também é oferecida, sendo que sempre tem alguém para dar um reforço numa disciplina. Muitas crianças melhoraram muito suas notas. E o acompanhamento não se refere somente ao desempenho escolar. As vezes algumas mães chegam reclamando que os filhos estão mal em casa, desobedientes, e eles também conversam. A ideia é tentar entender e usar o projeto como forma de suprir um pouco das carências desses jovens.
“Quando eles estão bem a gente elogia, quando não estão bem na escola a gente dá aquele puxão de orelha e procura também conversar com o pai e com a mãe para tentar ajudar essas crianças”, diz Marcos Santos, também conhecido por todos como Guinho, o responsável por olhar os boletins e ter esse contato mais direto com os jovens. “Tocar é legal, todos querem, mas tem que estudar!”, reforça Guinho.
E eles não estão sozinhos! Existe um projeto parceiro da Bateria 013 que é a Arena Bela Vista, a escola de futebol que também ocupa o baixio do viaduto e tem a mesma proposta de oferecer atividades para as crianças do Bixiga, neste caso com a prática de esporte.
A Arena Bela Vista também começou sem quase nada, apenas com uma bola e muita vontade. Antonio Carlos Pereira Lima Junior, professor e idealizador do projeto, começou a pedir ajuda de amigos e foi conseguindo os tapetes sintéticos, iluminação, mais bolas. O projeto começou com 20 crianças e hoje eles conseguem atender 80. A Arena Bela Vista não tem ajuda de governo. Eles ocuparam o espaço público e estão dando uma nova utilidade. Assim como o pessoal da Bateria 013, também é feito o acompanhamento dos alunos na escola e eles sempre procuram tentar ajudar nas dificuldades.
Quando perguntamos a Antônio o que o motiva a tocar um projeto desse quase sem nenhuma ajuda e de forma voluntária ele diz que faz principalmente por seu filho, mas pensando também numa forma de tentar mudar a realidade das crianças do bairro. “A única forma de melhorar nossa juventude é ajudar nossas crianças, com esporte, com cultura e com valores. Somente assim teremos um bairro melhor.”, diz Antônio.
Os atletas da Arena Bela Vista já conquistaram o 3º lugar em um campeonato disputado em Niterói, vão disputar taça São Paulo e ainda se espera muitas conquistas desses pequenos. A intenção é levar outros esportes para as crianças do bairro, como vôlei e basquete, mas por enquanto o futebol é a bola da vez.
O chute inicial já foi dado, a batucada já começou, mas é preciso que a comunidade abrace essas causas. Luis Paulo Miranda, conhecido por todos como Kbraw, diz que assim que eles começaram com a Bateria 013 ali no viaduto um morador foi lá reclamar do barulho. Mas ao conversar com os coordenadores e ver o trabalho de perto, ele entendeu a causa e mudou a opinião. “A falta de informação faz com que algumas pessoas fiquem resistentes a ajudar, mas de perto elas descongestionam o olhar, conseguem ver o quanto o trabalho é positivo e até se interessam em ajudar”, diz Kbraw.
Como colaborar
A primeira forma de colaboração é procurar conhecer esses projetos e sua importância na transformação das crianças da nossa comunidade. Aproximar-se, conectar-se!
E para continuar com os trabalhos a Bateria 013 está constantemente precisando de material e manutenção dos instrumentos. Eles já receberam muitas doações de mestres de bateria de várias de Escolas de Samba que ajudaram com baquetas, pele e diversos materiais. O que tiver sobrando, mandam para o projeto. Claricio Gonçalves, do Bloco Fuzuê, ajudou com vários instrumentos para a escola.
A Bateria 013 também pode ser contratada para eventos. Eles possuem um show pronto com cantor, cavaco, ritmistas, passistas, porta bandeira e que pode ser ajustado de acordo com a necessidade do evento.
“Muitas entidades do bairro já estão vendo nosso projeto como uma realidade transformadora e estão se juntando a nós. Estamos sempre abertos para conversar e agregar cada vez mais para o Bixiga”, diz Paulo Rogério da Silva Vicente, um dos líderes do projeto.
Hoje eles tem um comerciante que fornece água para os alunos em todos os ensaios. Muitas vezes eles precisam tirar dinheiro do bolso, para compra de alguns instrumentos e também para gasolina.
A Bateria 013 tem também como lema resgatar a essência do samba na Bela Vista. O bairro é conhecido por seus bambas, pela Escola de Samba Vai-Vai, mas não há espaços para que as pessoas possam tocar e se conectar com essa essência do samba. “Muitos foram pegar num instrumento pela primeira vez aqui”, diz Paulo Rogério.
E os coordenadores dizem que a Bateria 013 é apenas o primeiro degrau. Alguns vão ficando tão bons que migram para o Bloco Fuzuê e outras escolas de samba, ou seguem com a Bateria 013 em suas apresentações. A Bateria 013 foi criada em 2016, mas já nasce grande pela qualidade de seus ritmistas e por sua essência de ser um projeto transformador.
Imagens: Thais Taverna
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